Quero
uma mulher perdigueira, possessiva, que me ligue a cada quinze minutos
para contar uma ideia ou uma nova invenção para salvar as finanças,
quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se
aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem
aconteceu. Que seja
escandalosa na briga e me amaldiçoe se abandoná-la. Que faça trabalhos
em terreiro para me assustar e me banhe de noite com o sal grosso de sua
nudez. Que feche meu corpo quando sair de casa, que descosture meu
corpo quando voltar. Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me
fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar.
Que peça desculpa depois do desespero e me beije chorando. A mulher que
ninguém quer eu quero. Contraditória, incoerente, descabida. Que me
envergonhe para respeitá-la. Que me reconheça para nos fortalecer.
Fabricio Carpinejar
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