17 de outubro de 2011

"...me confundo com as metades que brigam dentro de mim. porque parte acelera na estrada, no momento da curva fechada. pé direito até o fim, enquanto outra freia, bruscamente, ao ver a primeira placa. seta torta, avisando sobre o perigo. Metade não suporta a burrice, a pequenez, a lerdeza. Outra, sempre calada, tolera a banalidade, engole a ignorância, convive com a mediocridade. Há muito, eu erro a mão, a dose, me confundo com o que devo usar. Porque metade briga, explode, dedo apontado na cara, enquanto outra se recolhe, quieta, debaixo da cama. No quarto fechado - no tudo escuro - metade berra outra sussurra. Tenho uma parte que acredita em finais felizes, em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado. Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade. Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha. Metade auto-suficiente. mas, há muito, eu erro a mão, a dose, esqueço a receita do equilíbrio, me perco. Há dias em que uso a metade que não poderia, dias em que me arrependo de ter usado a que não gostaria. Porque elas brigam dentro de mim, as metades. Há algumas mais fortes, outras ferozes, há partes quase indomáveis. Metades que me fazem sofrer nessa luta diária. Não deixar que uma mate a outra."
Eduardo Baszczyn

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