17 de setembro de 2011

Na noite passada eu sonhei com você

Acordou naquela manhã e sentiu-se estranha ao se lembrar do sonho que acabara de ter. Sua estranheza se tornava cada vez maior ao tentar se lembrar do rosto do homem que havia aparecido em sua mente enquanto ela dormia – sendo sua tentativa inútil. Alguns flashes do sonho passavam pela sua cabeça, mas nada que tornasse possível evidenciar a identidade do desconhecido.

Foi para o trabalho, mas nos intervalos de suas atividades, a estranheza era sentida apertando seu coração, sem ela nem saber o por que. Nesses momentos desejava ter dormido mais cinco minutinhos para que ao menos pudesse se recordar do rosto do homem que segurava sua mão em seu devaneio.

Quando chegou o horário de almoço, decidiu ficar só. Foi almoçar sozinha e para sair da rotina saiu à procura de um restaurante que ainda não conhecia. Optou por um pequeno restaurante italiano, que era novo na cidade.

Foi atendida prontamente por um jovem garçom, de aproximadamente dezesseis anos, que aparentava ser de origem italiana. Por mais aconchegante que era aquele lugar, ela ainda não havia deixado a sensação de estranheza de lado, sentia como se ela pressionasse seu estômago. Justamente por isso pediu apenas um pequeno prato de uma boa macarronada italiana, embora pensasse consigo mesma que o macarrão nem ao menos era uma criação dos italianos.

Quando chegou o seu pedido, ao olhar aquele prato, imaginou que deveria ter pedido uma quantidade maior, pois a visão era tão apetitosa que sua gula já havia aparecido querendo mais um prato, mas decidiu mandá-la silenciar e disse-lhe que precisava de um regime. Até mesmo a estranheza pareceu pedir para sentar-se à mesa e almoçar com ela, mas dessa vez recusou facilmente sua presença.

Almoçou sozinha, apenas observando as pessoas ao seu redor e saboreando aquela refeição apetitosa. Ao terminar, ainda havia algum tempo livre até a volta ao escritório. Decidiu chamar o garçom para pedir a conta. Quando este trouxe o seu troco, pediu à ele que parabenizasse o cheff pela ótima refeição que havia sido servida. O garçom a interrompeu dizendo que chamaria o próprio cheff para que recebesse tal elogio. Sentiu-se um pouco perdida, pois não era do seu feitio ficar tanto tempo em um restaurante, muito menos mandar elogios à cozinheiros, uma vez que sempre estava com pressa e atrasada. Mas neste dia sentiu-se relaxada, embora a estranheza ainda a acompanhasse.

Havia um incômodo naquela espera pelo tal cozinheiro, que logo se extinguiu ao ver sair pela porta que levava à cozinha, um belo homem, de aproximadamente 25 anos, vestido todo de branco, com a barba feita e de olhos verdes. Ela estava aguardando um senhor já com uma idade avançada, um típico italiano, desses senhores que vemos em filmes como atores coadjuvantes, mas em vez disso, quem apareceu foi o próprio protagonista galã.

Ao ver o rapaz vindo em sua direção, sentiu que a estranheza segurou a sua mão, quase que para acalmá-la. O semideus cozinheiro se apresentou, e ligeiramente ela também identificou-se e teceu elogios à sua refeição. Ele, muito solícito, mostrou-se contente com aquela conversa e agradeceu com um belo sorriso de dentes perfeitamente enfileirados.

A mão dela estava suada e seu coração bateu um pouco mais forte quando ele se despediu apertando sua mão. Depois disso, não se lembrava mais de nada que havia ocorrido. Não conseguia lembrar que desmaiou quando o cheff ainda a cumprimentava. Não recordava que foi carregada pelo jovem garçom até sua casa que ficava no segundo andar do restaurante. E não tinha conhecimento que aquele também era o apartamento do cozinheiro, que era irmão do garçom também charmoso.

Não sabia nada sobre tudo isso, mas bastou abrir os olhos e observar aquele rapaz todo de branco segurando sua mão que ela soube que seu sonho tinha sentido, que o rosto daquele jovem presente em seu devaneio era lindo e, além disso, que ele era um ótimo cozinheiro. Não havia explicações concretas sobre tudo aquilo, mas sabia que havia encontrado o melhor restaurante da cidade.

Deu um pequeno sorriso ao pensar sobre isso, e o jovem correspondeu pedindo se ela estava melhor. Levantou-se e pediu desculpa pelo transtorno que havia causado e foi interrompida pelo rapaz que pediu que ela esperasse um momento. Voltou com um papel nas mãos. Quando ela olhou, precisou conter o riso ao ler aquelas letras no papel: VALE UM MÊS DE ALMOÇO GRÁTIS. Agradeceu, despediu-se e partiu.

Saiu do restaurante tentando deixar sua visão romântica de lado, entendendo aquele “VALE” como um modo de consolá-la para que ela não se sentisse tão constrangida em voltar em outra ocasião, mas quando virou o papel comprovou que a sua intuição estava certa. Olhou atentamente aquela frase e a leu várias vezes com os olhos brilhando. Escrita com uma letra pequena, quase que para ser esquecida, estava a frase: “Eu não te conheço, mas sei que você é a garota dos meus sonhos, volte”. E ela, mesmo sem entender tudo aquilo, levava consigo uma certeza. Não sabia se ele era o homem da sua vida, não sabia onde tudo isso ia parar, mas ela sabia, sabia onde iria almoçar no dia seguinte.

Elis C.

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